Da
teosofia de Helena Blavatsky à poesia de Jorge Vercillo, se passaram
três séculos. Mas, nem mesmo 300 anos foram capazes de impedir esse
encontro da música com a espiritualidade e filosofia condensado pelo
artista no seu 9º álbum, intitulado ‘Como diria Blavatsky’, recém-lançado
pelo selo próprio Leve. Além das canções românticas, que marcam a
carreira do carioca, sambas e rocks fazem a diferença neste novo
trabalho, que será lançado em Salvador no próximo dia 26, às 21 horas,
no Bahia Café Hall. Confira a entrevista exclusiva do cantor à Tribuna.
Tribuna da Bahia – Para começar nossa
conversa, o que diria Blavatsky que nós precisamos saber?
Jorge Vercillo – O que diria Blavatsky é que todos nós somos um.
Essa frase, título de um disco passado meu, que é uma frase na verdade
budista. Blavatsky era uma escritora russa e foi uma das primeiras
pessoas a tentar mergulhar na espiritualidade humana sem necessariamente
estar atrelada a nenhum dogma religioso específico. E a música ‘Como
diria Blavatsky’, como fala de busca interior, eu acabei por batizar o
disco com o nome dela.
TB- Esse álbum, além de trazer esse momento de reflexão,
traz uma composição com sua esposa, Gabriela Vercillo, é o primeiro pelo
seu selo, o que tem de mais
novidade nesse trabalho?
JV- É um disco que traz algumas novidades. Tem três sambas, o que é uma novidade se
tratando
de um disco meu, tem também três músicas ligadas ao rock, e que acaba
trazendo novidades além dessa diversidade musical, que tem jazz, MPB,
pop, balada, e já é normal nos meus trabalhos.
TB- Você sempre fez questão de se desprender de rótulos. Você acha mesmo que a música não tem fronteira?
JV- Isso é apenas reflexo da diversidade musical e cultural que
existe no Brasil. Isso é único e tem que ser valorizado pela gente.
TB- A música Faixa de Gaza tem uma mensagem fantástica e é uma
resposta muito superior a um episódio lamentável (o cantor foi vaiado
durante uma participação no show comemorativo dos 70 anos de Jorge
Mautner). Fale mais um pouco do que te fez compor essa canção.
JV- É exatamente isso. É interessante o que
você está colocando, porque na verdade a letra de Faixa de Gaza, ela não
é contra ninguém especificamente, mas é contra esse tipo de pensamento
cartesiano, pragmático, pensamento que gera o racismo. Ao mesmo tempo
têm pessoas assim com raça, têm pessoas que são muito pragmáticas e
muito preconceituosas dentro da cultura e da música. E a música foi
feita para unir as pessoas, o que é uma contradição. Ainda têm células
nazistas na Alemanha, existe intolerância por toda parte, e é por isso
que o Brasil é considerado essa grande amálgama do mundo, do futuro,
essa mistura que deu certo e precisamos ir iluminando a cabeça desses
que ainda pensam diferente. É um trabalho árduo! E a resposta é essa
mesma, como eu disse na música: “pra quem vê de cima, existe uma só
tribo e se você olhar por dentro é o nosso medo que faz o inimigo”.
TB- Esse álbum é o primeiro no seu selo, o Leve. Qual é a sua expectativa?
JV- Essa minha decisão foi para me tornar um artista maior e não um
artista menor. Eu não estou lançando um disco de forma independente, eu
tenho um selo, eu tenho uma gravadora, onde, proporcionalmente, eu
tenho uma estrutura maior que eu tinha na Sony, porque as estrutura da
Sony, da EMI, são bacanas, mas têm que atender a 30, 40 produtos. A
minha estrutura só atende a mim e ao Kid Abelha, que é outro produto que
divide o escritório com meu empresário. Então, é uma estrutura muito
superior em nível de força de trabalho, de agilidade, de dinamismo. Eu
estou muito contente com isto, mas, no entanto, eu torço muito para as
gravadoras – eu sou muito grato a Sony, muito grato a EMI – que a gente
consiga estabelecer uma regra para o download ser remunerado, download
barato, ao mesmo tempo fácil para as pessoas. Acho que com isso, a médio
longo prazo, as gravadoras vão voltar a ter poder de divulgação, poder
financeiro para poder investir nos trabalhos de novos artistas.
TB- E por falar em ser um artista maior, desde que você começou a
cantar em barzinhos já se vão 22 anos. Hoje, qual é o seu maior desafio
como artista?
JV- Cada disco é um desafio. Cada disco você coloca ideias novas,
músicas novas, crias, filhas novas no mundo, e você tem o desafio de
levar isso para o mundo, de propagar essas ideias para as pessoas.
Então, é um desafio novo. Eu, pelo meu temperamento, não tenho essa de
ficar com o boi na sombra do que eu já construí não. Eu ainda tenho
muito para construir na minha vida, dentro da música e sempre em busca
de novos desafios.
TB- Quais são os artistas que você ouve?
JV- Eu ouço de tudo. Atualmente eu estou ouvindo o CD novo de Chico
Buarque, que eu acho que é fantástico, genial. Músicas como Querido
Diário, Essa Pequena, músicas maravilhosas, estou adorando o disco do
Chico.
TB- E qual sua expectativa de trazer o show novo para Salvador?
JV- Ah, tocar em Salvador é sempre muito bom. Estive na cidade no
início do ano, no Festival de Verão, e estou voltando com o novo show e o
interessante é que o repertório mistura as músicas do disco novo com os
meus antigos sucessos. Só que as pessoas têm pedido tanto as músicas
novas, o disco novo está sendo tão bem recebido pelo meu público, que em
muitas cidades eu me vi obrigado a tirar uma música antiga para colocar
uma música nova, como foi o caso de Invictor, o samba que eu fiz para
meu filho mais novo, o Victor, e as pessoas começaram a pedir, assim
como Nos Espelhos, Distante... E eu me sinto muito envaidecido, porque o
compositor está sempre lambendo as crias mais novas.
TB- Bom, para finalizar, o público está ansioso pelo show e já
iniciou a contagem regressiva. Então, deixa um recado para seus fãs aqui
de Salvador e de todo estado.
JV- Eu quero deixar um grande abraço e dizer que eu também estou
superansioso para cantar nesta ilustre capital baiana, que é uma
referência para todo Brasil. E quero aproveitar para pedir que as
pessoas venham através da internet, do facebook, twitter, a sugerir as
músicas do novo disco que querem ouvir, para a gente montar um
repertório especial. Espero vocês!