segunda-feira, 21 de novembro de 2011

G1 entrevista Jorge Vercillo

Fonte: Globo.com

'O pensamento nazista musical não deve prosseguir', diz Jorge Vercillo

Braulio Lorentz Do G1, em São Paulo

O cantor Jorge Vercillo (Foto: Divulgação) 
O cantor Jorge Vercillo (Foto: Divulgação)
 
"Como diria Blavatsky", novo disco do carioca Jorge Vercillo, tem 14 músicas. Entre uma homenagem ao filho mais novo ("Invictor"), uma parceria com a mulher ("Memória do prazer") e uma regravação ("Sensível demais", composta por ele, mas famosa com Christian & Ralf), uma canção se destaca.
"Faixa de Gaza" toma como ponto de partida vaias que ele levou em show no Circo Voador, no Rio, quando tocou com Jorge Mautner, no início deste ano. "Escrevi para os nazistas da música, que são cartesianos, aristotélicos", conta ao G1. "Fiz para os jornalistas que são xiitas. Eles pensam que têm que colocar os estilos separados na prateleira. Eles não têm o menor conhecimento musical, conhecem cinco ou seis bandinhas de rock e se acham conhecedores." Leia a entrevista:

G1 - Você compôs 'Memória do prazer' com sua mulher Gabriela. Qual a diferença de compor com ela?
Jorge Vercillo - Não foi planejado. Foi casual. Eu estava tentando botar letra em uma melodia que já existia. Ela começou a sugerir palavras e percebi que se tornou uma parceria. Estamos casados e apaixonados há mais de 12 anos e com certeza pode dar outros frutos, além do Vinícius e Victor. Tenho um samba em homenagem a ele no disco, "Invictor".

G1 - O que te fez regravar 'Sensível demais' depois de tanto tempo?
Vercillo - Eu estava em uma rádio no interior de São Paulo. O locutor falou que eu era um cantor chique, que só tocava em rádio de MPB sofisticada. Ele perguntou "por que você não regrava essa música aqui?" Era a versão de Chrystian e Ralf para "Sensível demais". Eu tinha me esquecido que a música era minha. A [Maria] Bethânia também regravou. Pensei que estava na hora de dar a minha versão para a música, com vocais e violões de aço.

G1 - 'Faixa de Gaza' foi escrita a partir de episódio no Circo Voador, no Rio, quando você foi vaiado em show do Jorge Mautner. Foi algo que incomodou tanto assim?
Vercillo - Aquilo não me incomodou. Não ouvimos a vaia. Não foi generalizado, foram três jovens alcoolizados. Não fiz a música para eles. Existe um preconceito velado. Escrevi para os nazistas da música, que são cartesianos, aristotélicos. Fiz para os jornalistas que são xiitas. Eles pensam que têm que colocar os estilos separados na prateleira. Eles não têm o menor conhecimento musical, conhecem cinco ou seis bandinhas de rock e se acham conhecedores. Eles têm poder de veto. Isso é perigoso para a música. Não falo contra os roqueiros. Existem roqueiros como o Bono, que usam a atitude do rock em prol de um mundo melhor.

  G1 - Mas você não depende de críticas, de jornais, de ser hypado ou não para vender discos, ser tocado na novela, fazer shows. Por mais que essa questão seja importante, ela não te afeta. Por que, então, escrever sobre esse assunto?
Vercillo - O eu não existe e nunca existiu. Quando eu ocupo o espaço no disco por alguma coisa, por mais que seja pessoal, não tem um reflexo maior em mim. Falo por todos. Grande parte da MPB é vetada de alguns veículos de comunicação porque não são hypados, não tem um perfil roqueiro. Ou barbudinho. Eu não tenho nada contra quem tem esse perfil. Acho o Marcelo Camelo um grande compositor. Mas quem é esse editor de jornal ou produtor de programa de TV para levar em conta o gosto pessoal para falar de algo? Influencia negativamente a música. Eu já vi porcarias gravadas por aí que tem uma roupagem de rock e samba. Vendem conceito e a mídia endeusa. O pensamento nazista musical não deve prosseguir. Se gosta de conceito, vai fazer moda e deixa a música em paz.
 
G1 - Quando você fala dos barbudinhos, é gente como Camelo, Jeneci, Criolo?
Vercillo -
Jeneci é ótimo... Tem um trabalho bacana. Uma das minhas alegrias é saber que está pintando um novo cantautor. Diziam que era o único que tinha por aí. Mas tem Pedro Mariano, Zé Ricardo. Moska e Lenine são anteriores. O Lenine ficou 20 anos amadurecendo para ter espaço. Existem muitas cantoras, muitas com talento e outras que não estão prontas. Para mim, o grande talento feminino dos últimos anos é a Maria Gadú. Sinto que há algumas ainda em estado de evolução. Eu fiquei 15 anos sem espaço, na prateleira. Quando aconteceu, veio uma enxurrada de obra.

G1 - Na música, você fala de tribos. De qual tribo você acredita fazer parte? E qual a tribo que te trata como 'bastardo', como você canta?
Vercillo -
[Risos] Eu me sinto o filho bastardo do samba. Quando eu gravo um samba eu tento sempre perverter o samba. Em "Faixa de Gaza", eu boto um violão de sete cordas com uma guitarra. O papo de conceito é uma porcaria. O que proponho é o conteúdo.

G1 - Quando você diz conceito, está falando da roupa, do visual e das panelinhas com as quais certos artistas novos se envolvem?
Vercillo -
Exatamente isso. No Rio e em São Paulo, existe uma aura de falar do "conceito do fulano". Ele se veste de uma maneira, é filho de não sei quem, anda com não sei quem, alguém falou bem dele. Mas e o conteúdo? É bom ou não é? O mais importante é o conteúdo. O Ed Motta falou algo que é fantástico: "vivam os pagodes, porque têm melodias bacanas". Há grupos de rock com três acordes que os outros acham geniais. Não vai me vender que isso é o ouro, é o melhor e mais moderno. Moderno é o Stevie Wonder.

G1 - Gostou do show dele no Rock in Rio?
Vercillo - Gostei, ainda mais com tantas atrações bacanas. Teve muita banda de rock legal. Senti falta de Nickelback. Eu tive muito contato através da internet com eles. Não é um estilo que eu sou especialista. Não sei dizer porque eu gosto. A terceira dimensão é um plano relativo. Nada do que você falar vai ser absoluto. Mas existe o rock como Yes, The Police. O rock não precisa ser pobre em densidade melódica e harmônica.

G1 - Sei do seu interesse por ufologia. Já viu algum ET ou disco voador?
Vercillo - Vi várias aparições nos últimos meses de luzes na minha casa. Há anos olho para o céu e nunca via nada. Para mim, o sentir é mais importante do que ver. Tem que buscar a história da raça humana, buscar a física quântica, que está sendo comprovada na comunidade científica mundial. A nossa consciência interfere na realidade. Quem tem uma consciência, um astral mais otimista, vive uma realidade mais positiva. Isso está sendo provado através da ciência. Não só a física quântica, mas a teosofia. Não só eu vi, pessoas que riram falando que eu estava doidão e que eu tinha fumado também viram. Mas eu não bebo e não tomo droga nenhuma. Acho bacana falar sobre isso porque a maioria das pessoas vive uma realidade calcada na matéria. Quando você vê alguém, você vê a luz refletida na matéria da pessoa.

Um comentário:

  1. Incrível essa entrevista do Jorge Vercilo. Aumentou cada vez mais minha admiração por ele. Não só como cantor e compositor, mas como ser humano. Me impressionou seu conhecimento, seu embasamento para falar sobre Física Quântica e seu modo simples de dizer que nossa consciencia interfere na realidade. Parabéns mais uma vez. Para mim, ele é o melhor cantor do Brasil. Sinto uma alegria muito grande em observar suas composições e as coisas lindas que ele nos diz.

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