03.11.2011 | 10:30
MARÉ DURADOURA
Ricardo Schott
Fonte: http://www.laboratoriopop.com.br
"Não
vejo como sendo comum as pessoas fazendo piadas comigo. Pelo contrário,
vejo as pessoas respeitando meu trabalho". As brincadeiras que o
programa Cilada fez com Jorge Vercillo - e que culminaram no
convite para que o cantor estivesse em pessoa há três anos na edição de
40 episódios do programa, aceito na hora - nunca foram vistas de forma
pejorativa por ele, que lança o CD Como diria Blavatsky e volta à independência, após anos de relacionamento com gravadoras como Warner, Sony e EMI.
"O Cilada
é uma grande brincadeira, um programa legal pra caramba, do qual adorei
participar. Se o Bruno Mazzeo não gostasse de mim, iria brincar com
outros artistas. Aquilo dá uma promoção enorme. O personagem dele não
gosta do Jorge Vercillo porque é um cara chato, mesmo. É aquele cara
estereotipado, ele está estereotipando essa pessoa", afirma o cantor,
que não conhecia o programa ao ser convidado. "Ele me ligou e me contou o
contexto. Comecei a assistir, morri de rir e fui lá".
O fato de, em muitos momentos, encarar críticas negativas a seu trabalho - geralmente classificado como imitação de Djavan em várias resenhas - o faz acreditar que está sendo estigmatizado. "Mas fazem isso com todo artista de MPB que consegue sair desse nicho. Também não posso acreditar que sou vítima do mundo. Vejo a falta de tempo para ouvir um disco - mas ouvir de verdade, não ouvir passando rápido porque há mais discos na fila. Quem gosta de um som mais sofisticado harmonicamente, gosta do meu trabalho", afirma, citando nomes de colegas como Marcos Valle, Ed Motta e Ivan Lins, que lembra referirem-se à sua música. "Tô aí, toco nas rádios adultas, em temas de novelas, loto espaços. A vida é muito generosa comigo, não tenho do que reclamar. Acho curiosa a estigmatização, mas não me abala mais".
Hora de falar do novo disco, Como diria Blavatsky. Realmente, um álbum diversificado, que vai de uma faixa-título que ele considera "intimista e camerística" ao som herdado de Billie Jean, sucesso de Michael Jackson, em Me leve a sério ("eu e meu filho adoramos o som dele", diz). Tem um lado brasileiro muito forte, dado pelos sambas presentes. E ainda aponta para a diversificação ao trazer o hit Sensível demais, uma canção que já foi gravada por dois nomes díspares: Maria Bethânia e a dupla Christian & Ralf. "Quero fazer uso desses elementos com minha personalidade. Não me interessa fazer um disco só de valsa ou só de bossa nova", afirma.
O
conceito do álbum passa por temas como "união" e fala, na
música-título, dos pensamentos da escritora e teóloga russa Helena
Blavatsky (1831-1891), co-fundadora da Sociedade Teosófica, organização à
qual geralmente é atribuída uma maior aproximação da ciência com a
religião. Curiosidade e coincidência: a internet está loteada de sites
que se propõem a relacionar artistas pop com sociedades secretas, como
os Illuminati (nomes como Lady Gaga e Beyoncé, por exemplo, ganham quase
diariamente interpretações como essas), e o tema vem sendo discutido
por muita gente séria.
"Conheço (os Illuminati), sim. Dou uma olhada às vezes no que sai. Nem acho que sociedades secretas sejam um pensamento moderno. O que é mais moderno para mim é a palavra compartilhar. Mas compartilhar conceitos, não aquela coisa de pegar patrimônio alheio e colocar na internet", afirma Vercilo, que hoje tem uma estrutura para cuidar apenas de sua carreira, no selo Posto 9, do qual é um dos dois únicos contratados (o outro é o Kid Abelha). "Não me sentia deixado de lado pelas gravadoras, mas sentia uma atrofia. Não havia interesse de divulgar nada. O único retorno que a gravadora tem é de vendas de discos. No meu caso, tenho retorno de direito autoral, retorno artístico. As gravadoras estão perdendo o poderio de estrutura, pagam uma carga altísssima de impostos. A pirataria tem que ser coibida com uma prática de download pago. Quem baixa música na internet, o faz por não ter outra opção".
A tal busca de Vercilo pelo conhecimento ganha ampliação na balada Eu quero a verdade. Em entrevistas, ele vem revelando que a canção quase se chamou Wikileaks, em referência à organização que vaza informações confidenciais. "Ela contesta uma relação pessoal do ser humano. Contesta o governo, as informações que passam para a gente. A gente é muito ludibriado". Vercillo acredita que até mesmo a imagem que o mundo tem hoje do povo americano está errada. "É raro você ver um americano com uma noção boa de geografia, mas essa falta de conhecimento é incentivada. É um povo bom, são pessoas boas, criativas, mas desde a invasão do Iraque, todos ficaram com uma imagem nociva deles. É o povo mais manipulado do mundo. Isso se deve aos governantes, que precisam sempre do lucro exacerbado da indústria bélica. Fomentam guerras, poem medo na cabeça das pessoas", crê.
Vercillo nega que tenha feito a nova música Faixa de Gaza para o público que o vaiou durante uma participação num show de Jorge Mautner e diz que a canção é endereçada a "algumas pessoas do mercado cultural e musical, como alguns editores de cadernos de jornais. São pessoas que estão num lugar muito importante para decidir quem aparece ou não, e que não têm base musical ou poética. Como produtores de TV que gostam de cinco ou seis bandinhas de rock inglesas e veem o mundo só por aí", queixa-se.
Foto: Divulgação/Leonardo Aversa
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