domingo, 16 de maio de 2010

Mauro Ferreira Comenta Show de Jorge Vercillo no RJ

Banda sustenta viagens de Vercillo em 'D.N.A.'


Resenha de show
Título: D.N.A.
Artista: Jorge Vercillo (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 15 de maio de 2010
Cotação: * * * 1/2

O show D.N.A. é viagem pop pelo particular universo musical de Jorge Vercillo. A salutar brasilidade do espetáculo anterior do cantor - Todos Nós Somos Um, que estreou em abril de 2008 com inspiração no CD homônimo lançado em novembro de 2007 - se dilui neste novo show, ainda que o roteiro agregue um samba filosófico, Verdade Oculta, embalado no palco em formato (quase) tradicional. Vercillo soa menos brasileiro sem perda substancial da densidade conquistada em seu álbum anterior, que rendeu um hit tardio, a ótima balada Deve Ser, providencialmente alocada no roteiro e no atual disco (como faixa-bônus) por ter sido veiculada em escala nacional na trilha sonora da recém-terminada novela Viver a Vida. Antes tarde do que nunca, pois Deve Ser é bonita!!!

Com roteiro que agrega músicas de todos os álbuns do artista, o show segue com fidelidade a rota traçada pelo recém-lançado CD D.N.A. - o primeiro do cantor na gravadora Sony Music. Dentro da viagem filosófica, que embute questões transcendentais e até místicas, é inegável a beleza de Há de Ser, a balada gravada por Vercillo no disco com Milton Nascimento. Impressiona também o fato de o fã-clube fiel já estar cantando a maioria das músicas do CD que mal chegou às lojas. E, pela reação popular, já dá para perceber que Arco-Íris (Jota Vercillo e Filo Machado) se insinua como provável segundo single tão logo se esgote o curto fôlego promocional de Me Trasformo em Luar. Em contrapartida, a afro Quando Eu Crescer perde impacto sem o coro angolano do álbum.

As questões filosóficas propostas pelo CD D.N.A. se esvaziam na atmosfera pop do palco, mas propiciam a citação de versos de músicas de Caetano Veloso - Um Índio (1976) e Terra (1979) - e a inclusão de temas afins como como Invisível. Puxar a capella o refrão de Terra é efeito que dá resultado. E, citações à parte, o fato é que a superbanda arregimentada para o show D.N.A. - formada por Bernardo Bosisio (guitarra e violões), André Neiva (baixo), Glauton Campello (teclados), Claudio Infante (bateria), Orlando Costa (percussão), Jessé Sadoc (trompete) e Glauco Fernandes (violino) - sustenta Vercillo em suas viagens musicais. Suporte evidenciado no arranjo progressivo de Fênix (Vercillo e Flávio Venturini), herdado do show anterior, que abre espaço para solos da bateria de Infante e da guitarra de Bosisio. Em Fênix, aliás, Vercillo exercita seus dotes vocais ao arriscar um falsete - recurso bisado em Quem É Você, a boa surpresa do roteiro. Trata-se do tema do compositor e pianista de jazz norte-americano Lyle Mays que foi lançado no Brasil por Zizi Possi com letra em português do também pianista Luiz Avellar. Quem É Você dá outro colorido a um roteiro excessivamente autoral. Composições como o samba Toda Espera (lançado por Vercillo no álbum Todos Nós Somos Um) e o reggae Himalaia (do segundo álbum do artista, Em Tudo que É Belo, de 1996) se dispersam no repertório do show D.N.A. e passam despercebibos - ainda que Himalaia até renda apropriado link temático com o hit que o segue, Homem-Aranha. Mas tais dispersões e costuras talvez nem sejam percebidas pelo público feminino que faz coro espontâneo em Ela Une Todas as Coisas e em Encontro das Águas. Este primeiro hit de Vercillo é praticamente entoado a capella pelo público - um afago do ídolo (que se cala para o público cantar) no ego do fã-clube que não o abandonou quando ele deixou de seguir a cartilha radiofônica para renovar sua música. Aliás, no fim dançante, eles, os hits das rádios, reaparecem para elevar a temperatura do show. Claro que Vercillo recorda Que Nem Maré e Final Feliz - este já no bis que termina morno com lembranças inadequadas (para o momento) de Penso em ti e Mandala. Enfim, Vercillo imprime sua identidade em D.N.A. e, para seu público, a viagem tem destino certo e feliz.

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