quarta-feira, 12 de maio de 2010

Reportagens e comentários sobre o DNA (4)

D.N.A.' de Vercillo gera renovação e banalidade

Resenha de CD
Título: D.N.A.
Artista: Jorge Vercillo
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Detratores de Jorge Vercillo encontrarão munição certeira em D.N.A. - mediano álbum de inéditas que marca a estreia do cantor na gravadora Sony Music. É certo que há músicas no disco - casos de Cor de Mar, parceria do compositor com Dudu Falcão, e de Me Transformo em Luar (eleita o primeiro single) - que reiteram certa banalidade que diluiu o valor da obra de Vercillo ao longo dos anos 2000. É como se, nestas músicas, ele tentasse reconstruir uma arquitetura pop que não já não exibe o mesmo acabamento. Contudo, D.N.A. gera também renovação. A mesma observada no anterior álbum de inéditas do cantor, Todos Nós Somos Um (2007), que aproximou Vercillo dos ritmos brasileiros. Aliás, D.N.A. traz um bom samba em embalagem tradicional que bem poderia figurar em Todos Nós Somos Um. Pena que Verdade Oculta, o tal samba, soe longo no disco (fica a impressão de que a faixa deveria ter um minuto a menos, mas que foi estendida desnecesariamente). D.N.A. não é tão brasileiro quanto o salutar álbum de 2007, mas Vercilo continua em busca de diversidade rítmica. Caso Perdido, parceria com Max Viana, é um exercício de suingue à moda de Stevie Wonder - até corajoso pelo risco de aproximar Vercillo de Djavan, de quem ele sempre foi visto como um genérico (Max é filho de Djavan). Arco-Íris - o tema que mais evidencia a habilidade de Vercillo como arquiteto pop - é temperada na segunda parte com um molho de salsa. O cantor e compositor Filó Machado é parceiro e convidado de Vercillo na faixa. Já Milton Nascimento valoriza Há de Ser, canção bonita que nem precisava dos sons indígenas inseridos no início e no fim da faixa (ainda que esses sons tribais remetam à obra de Milton). Mesmo porque, mesmo sem o viço de outrora, a voz de Milton ainda guarda resquícios divinos. Já Ninah Jo contribui com seus vocais em Memória do Prazer, balada de sensualidade terna, adornada com cordas. A introdução sugere sedutor clima jazzy - sublinhado pelo solo do flugelhorn de Jessé Sadoc - que não se sustenta ao longo da faixa. Em atmosfera bem diversa, Quando Eu Crescer tem sua linha afro realçada pelos versos traduzidos para o dialeto kimbundo por Filipe Mukenga e cantados por um coro angolano. Ao passo que Por Nós - parceria antiga com Alexandre Rocha, do tempo em que Vercillo era desconhecido cantor da noite - evoca na letra uma brasilidade rural que não é traduzida pelo arranjo. No fim das contas, D.N.A.
alterna altos e baixos. As letras - que abordam questões filosóficas e espirituais com direito a incursões pelos mundos da ufologia e da física quântica - estão entre os pontos baixos do disco, prejudicando inclusive uma boa balada comoVentos Elísios. Nesse quesito, saltam aos ouvidos de forma positiva os versos da faixa que curiosamente vem a ser o ponto mais alto do disco: O Que Eu Não Conheço, a parceria com Jota Velloso que Maria Bethânia lançou em 2009 no disco Tua. Parece heresia, mas a gravação de Vercillo é muito superior à da intérprete e evidencia a beleza da melodia que - percebe-se agora - não se ajustou bem ao canto de Bethânia.

Em suma, D.N.A. alterna altos e baixos. As letras - que abordam questões filosóficas e espirituais com direito a incursões pelos mundos da ufologia e da física quântica - estão entre os pontos baixos do disco, prejudicando inclusive uma boa balada como gera renovação, banalidade e alguma pretensão. Mas reitera o talento de Jorge Vercillo, artista alvo de amores e ódios intensos. O que pode impedir análises mais equilibradas de disco que tem méritos.

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